Já pensou quais são os critérios que estão por trás da escolha de uma escola?
Este é um tema que me mobiliza! Sempre me mobilizou! Nos 16 anos que trabalhei na Escola Santi, em São Paulo, atender famílias que visitavam a escola sempre foi uma das minhas coisas favoritas.
Acolher, escutar, orientar e apoiar a escolha sempre foi algo que veio genuinamente.
Já tinha uma listinha de algumas dicas no bolso:
⁃ Visite mais de duas escolas;
⁃ Leve seu filho junto e perceba como vocês se “relacionam” com o espaço;
⁃ Fiquem atentos à metodologia, aos valores por trás do que a escola ensina;
⁃ Se perguntem: Qual comunidade queremos escolher conviver?
Estas e outras dicas brotavam ao escutar os pais.
Quando escolhemos uma escola, escolhemos um espaço comunitário, escolhemos muito mais do que a vivência escolar de uma criança, escolhemos algo para toda família!
Quero contar então, o que vem acontecendo comigo, na trajetória da maternidade, neste quesito, escolher escola!
Ser estrangeira em qualquer lugar do mundo traz desafios. Como educadora, traz desafios que me encantam. Observar, visitar, conhecer a cultura local e as escolas que existem nos diferentes contextos do lugar.
Sempre fiz isso, mesmo antes de ser mãe, imagine agora!
Há menos de 10 anos viajei a América Latina pesquisando escolas públicas rurais em lugares longínquos, simplesmente porque amo pesquisar sobre a “antropologia da educação” em seus diferentes contextos mundiais.
Não perdendo o foco da conversa, aqui estou, vivendo há 5 anos em Lisboa e agora, mãe de dois, Maria com 4 anos e Antonio com 2.
Sou uma educadora que escolheu SER EDUCADORA, não por amar escolas, bem pelo contrário, escolhi porque minha motivação sempre foi transformá-las! E assim me descrevo nesta jornada, uma educadora transformadora, me dedico a isso faz quase 30 anos.
Vamos agora para meu “umbigo”? Como esta pessoa viveu a escolha da escola para sua primeira filha, numa terra onde é estrangeira?
Sofri bastante com as referências de paulistana que sou e ex sócia da Escola Santi (onde minha alma sempre habitará, onde quer que eu esteja), estou “mal” acostumada com serviços de excelência, porque São Paulo investe muito nisso, e tem mesmo muitas opções.
Visitar escolas particulares no Brasil é fácil, tanto como educadora, quanto como mãe.
Aqui não! Estranhei demais isso no começo, mas fui mais do que nunca me atentando para os sinais culturais de Lisboa, e das escolas locais. Teve uma escola que eu desejava demais conhecer, mandava email não me respondiam, ligava, não atendiam, fui bater na porta e me responderam: não pode visitar, preservamos nossos alunos, mande mensagem novamente por email e vamos ver uma data possível.
Assim fui batendo em muitas outras portas e conhecendo o universo, meu olhar passava sempre à partir da cultura também local que eu começava a perceber melhor.

Para encurtar este caminho, que continua sendo um caminho, cheguei a lançar um projeto de escola itinerante em jardins públicos, e este projeto, hoje se constitui um coletivo de famílias que se encontram na natureza, não virou uma escola. Mas me fez chegar num projeto similar, uma forest School, um projeto lindo, que optei em colocar Maria 3x por semana, meio período, uma vez que eu estava grávida e minha gravidez era de risco.
Maria se adaptou lindamente, que sonho uma escola dentro da floresta, num espaço com inspiração Waldorf e educadoras muito desejosas de fazer bem feito, Maria ficou um ano, e com o passar do tempo fui percebendo que Maria sentia falta de um cantinho mais fechado, a relva, a árvore a encantavam sim, mas talvez não era isso que ela mais desejava, pedia para ficar em casa brincando horas e horas à fio com suas bonecas e casinhas, e assim a respeitamos. A floresta sempre foi meu sonho de criança e continua meu sonho de adulta, mas o momento de Maria era mais indoor e assim voltou para casa, neste momento para junto do irmão que havia nascido e vivemos lindamente este tempo familiar, com muitos desafios, mas com o coração tranquilo de acolher o sentir desta minha menina e ficar mais tempo sem escola, curtindo o brincar em casa
Vou pular alguma etapas porque senão o texto virará uma bíblia, e este não é meu intuito.
Este ano letivo, setembro de 2020, conseguimos vaga numa escola que é praticamente impossível conseguir, a mesma escola que comentei que bati à porta e “me mandaram embora”, uma escola referência em pedagogia Waldorf aqui. Pensamos muito, avaliamos e decidimos colocá-la numa “instituição escolar “, maior, e com mais propostas formativas aos pais, prezo MUITO por isso, e foi um dos critérios que pesou, ser um espaço formativo para nossa família.
Acontece que a pandemia quebrou um pouco este “desejo”, e no meio disso tudo, lá estava nossa menina mais uma vez numa escola com muitas belezas, mas talvez mais belezas para mim, do que para ela. Sua adaptação foi à passos de formiga e na verdade, seu corpo nunca se despediu de mim sem estar “tenso”, no início achava que seria uma questão de tempo. Adaptar-se é sempre um processo… Mas tinha algo que nos intrigava como pais, Maria demonstrava uma insegurança naquele espaço que não combinava com ela, tinha algo que ela não conseguia verbalizar, mas seu corpo nos dizia que não sentia-se confortável ali. Formam muitas reuniões e tentativas, mas de fato, tomamos a decisão de tirá-la, nosso coração sentiu que era o melhor a ser feito, apesar de confiar na escola.
Escolher escola é um “ato de coragem”, coragem significa agir com o coração. É preciso sentir, observar e estarmos atentos aos sinais dos nossos filhos.
Escolhemos por eles, para eles, porque temos critérios que elegem o contexto e a comunidade que consideramos ser a melhor para vivenciarem a aprendizagem, e mais que tudo as relações.
Sejam cuidadosos ao escolher, mas sejam sensíveis para perceber se a escolha está adequada ao momento do filho e da família. Desistir da escolha também é um ato de coragem e respeito, o mais importante é ter nossos filhos seguros e acolhidos, onde quer que seja, independente da metodologia, todos precisamos de acolhimento e cuidado, principalmente em espaços que se propõem a Educar!
Hoje tenho a Casa Pitanga, um espaço que oferece muita troca, afeto e mais que tudo acolhimento. Um dos serviços que faço, o Aconselhamento Parental, é apoiar famílias na escolha de escolas, e tem sido maravilhoso fazer parte desta mediação e deste partilhar sobre as escolas que venho visitando por aqui.
Até breve,
Paula Cury
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