Cá eu me encontro, a viver em Lisboa, há mais de 5 anos.
Nasci e cresci em São Paulo. Desde que me conheço por gente, fui acostumada a viver no ritmo rápido e cosmopolita da cidade. Sou educadora por profissão e uma apaixonada pela educação. Durante 16 anos trabalhei (e fui sócia) na Escola Santi, instituição que considero a minha grande escola, onde pude colocar em prática muitas da minhas ideias e projetos que elaborava em minha cabeça. Apesar desse histórico, tenho muitas questões em relação a entidade escolar e com a academia em geral, mas é melhor deixarmos esse assunto complexo para outro dia.
Venho de uma família onde viajar sempre foi um valor e acredito que por isso, fiz das viagens um hobby e também, uma transformação de vida. Como diria Rita Lee, um belo dia resolvi mudar, e em 2011, fiz as malas e fui morar no Capão, uma cidade de 400 habitantes localizada na Chapada da Diamantina. Entre tantas vivências que passei durante esse momento da minha vida, tive a oportunidade de trabalhar no ICEP, um maravilhoso projeto social onde dava formação para diretores, coordenadores e professores de escolas municias nos vilarejos da região. Essa estada durou um ano, e posso dizer que o Capão é a zona rural mais cosmopolita que já conheci e que meu coração é mais baiano do que qualquer outra coisa ou nacionalidade.
Mudar a minha vida radicalmente assim foi um processo desafiador e viver com pouco foi um dos maiores e melhores desafios. Passei a ganhar menos da metade do que eu ganhava em São Paulo, e ao mesmo tempo, passei a gastar menos de 1/3 do que estava habituada. Escolhi alugar uma casa bem tradicional do vilarejo, simples e especial. No quintal havia uma grande mangueira e um poço com uma pequena queda d’água. Era na horta da casa do vizinho, o Sr. Zé Maria, onde fazia o meu “supermercado”. Com R$0,50 comprava frutas e verduras orgânicas suficientes para a semana.
No Capão, há uma escola pública e uma escola comunitária, a Brilho do Cristal, uma das melhores referências de escola rural que já conheci. O médico da cidade é naturalista e recorre a alopatia apenas quando acredita ser realmente necessário. É um vilarejo onde as necessidades básicas são realmente privilegiadas e eu confesso que pensei que ficaria por lá muitos e muitos anos.
Aos poucos o que me interessava, acabou por virar encanto e, ao fim do primeiro ano do contrato no ICEP, resolvi que gostaria de viajar por alguns países da América Latina para conhecer outras zonas rurais. Com apenas a certeza de uma passagem de ida por Buenos Aires e uma de volta pela Guatemala, coloquei a mochila nas costas e durante 4 meses viajei por terra deixando os encontros me guiarem. Neste meio tempo criei um blog, o paulanomundo.blogspot.com, onde fiz relatos das experiências que tive nessas minhas andanças. Voltei ao Brasil fascinada pelos países que conheci e com novos planos em mente.
Depois de tudo que vivi nas zonas rurais, nunca imaginei que voltaria a morar em uma cidade grande, mas meu coração me levou para a cidade maravilhosa e em julho de 2021, me mudei para a casa do meu namorado, que apesar de paulistano, já era carioca há 13 anos. Mantive a casa do Capão por mais seis meses e, no final do ano, trouxe minhas coisas e meu amado “cãopanheiro” Argos para assumir a vida no Rio de Janeiro.
Pela presença abundante da natureza e por toda a beleza que até hoje me encanta, o Rio era uma das poucas cidades grandes que eu aceitava viver naquela época. Casei, engravidei, perdi dois bebês, e entre dores e delícias, por lá fiquei durante 4 anos e meio, até me separar em 2015.
No meio de muitas incertezas e inúmeras possibilidades, de repente uma oportunidade: uma proposta de vir a morar em Portugal. Afinal do que a vida é feita se não de surpresas, não é mesmo?
Meu pai me perguntou se eu não teria interesse em viver em Lisboa, já que ele resolveu investir em imóveis por essas bandas de cá. Em março de 2016, eu dava início ao processo de mudança, junto ao meu novo parceiro, que entrou de cabeça neste projeto e que, por coincidência do destino ou não, sempre desejou morar e se dedicar a sua carreira de músico na Europa.
Juntamos os trapinhos, viemos de mala e cuia e termino esse texto da mesma forma que iniciei: cá eu me encontro, a viver em Lisboa, há mais de 5 anos. Viemos os dois, Bernardo e Eu, mas por aqui nos tornamos quatro: Eu, Bernardo, a Maria e o Antonio. Aliás, a maternidade é um enorme capítulo na minha vida, mas isso é assunto para um próximo post.
Acredito que é na troca que aprendemos e nos tornamos melhores pessoas e espero poder partilhar as delícias e dores da vida por aqui.
Até breve!
Paula Cury
0 Comments